Metonímias e pensadores
É convencional
dizer-se, em meios jornalísticos, “Washington pronunciar-se-á hoje à noite” referindo-se aos EUA ou
“Trump deve temer a retaliação de Pequim” referindo-se à China. Por que
carga de água não acontece então o mesmo, num contexto semelhante, com a
esmagadora maioria das cidades onde as instituições centrais dos países estão
sediadas?
Será que é mesmo
uma referência ao local específico onde se concentra um órgão governativo
supremo do Estado, o que explicaria as habituais designações “Kremlin” e “Eliseu”
para Rússia e França, respectivamente? Não, pois assim seria comum empregar “Capitol
Hill” (ou até “Casa Branca”, quem sabe) e “EUA” alternadamente.
Será que ocorre afinal
por a cidade ser tão importante que engloba de certa forma o país respectivo,
como a empresa joia de uma SGPS? Mas então porquê “Downing Street”, “Number 10”
ou “Whitehall” para uma referência a Inglaterra, ao invés de “Londres”, quando
não existe cidade mais representativa do poderio e influência britânica? E se
assim é, porquê “Washington” e não “Nova Iorque”, a cidade talismã da América?
Será que é uma
questão de foco mediático, o que justificaria “Pyongyang” ser um sinónimo comum
para designar a controversa Coreia do Norte? Também não, pois não se ouve “Deli”
e “Índia” – um dos países mais falados do Mundo - utilizadas de forma
intercambiável, por exemplo.
Porque é que seria
igualmente aceitável – pelo menos para o meu ouvido - empregar “Manilla”
(para uma referência às Filipinas) mas já não “Kuala Lumpur” (para a Malásia)?
Porque é que esta
sinédoque até é utilizada para se referir à União Europeia (“Bruxelas”) mas já
não parece funcionar com nenhum dos cinquenta e quatro países Africanos?
Porquê procurar uma regra geral onde só existem
excepções?
O único remédio para o eterno insatisfeito é aprender
a conviver com a falta de respostas, conformando-se com a total aleatoriedade e
ausência de significado do universo.
Porque é que em Espanha são espanhóis se na Rússia não são rissóis?
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