O Amante de Porfíria
Chegou ligeira a
chuva à noite,
E alçou-se o triste vento,
Que os elmos pune com seu açoite
E vexa o lago em descontento:
Eu escutava em desalento.
Foi quando entrou Porfíria,
Ajoelhada e gentil;
Aqueceu o chalé com o fogo
E enfim sentou-se ao meu lado
E me chamou. Quando o chamado
Não respondeu, o meu braço colocou
Em seu quadril, o ombro nu,
E espalhou seu louro cabelo,
Murmurando que me amava —
Tão fraca, queria somente
Livrar do peito, que lutava,
O vão orgulho que sente,
E entregar-se a mim eternamente.
E às vezes a paixão domina,
E o festim desta noite bela
Não freia a ideia repentina
De alguém tão necessitado do amor dela.
Certo é que em seu olhos eu olhava
Feliz e orgulhoso; pois vi
Que Porfíria me idolatrava.
Com o choque, a agitação senti,
Ela crescia, e eu decidi.
Perfeita e pura: naquele momento,
Pois ela era minha, minha só,
E o seu cabelo, em meu intento
Passei numa áurea linha
Três vezes por sua garganta,
E a estrangulei. Foi indolor;
Foi indolor, disso estou certo.
Como uma abelha presa em flor,
Abri os olhos azuis de perto:
E riram, puros e abertos.
Eu ergui-a como costumava,
Só que meu ombro segurava
Sua cabeça ainda pendente.
Feliz com o desejo cumprido,
A sua fronte rósea e sorridente,
Que o que desprezava é passado,
E eu, seu amor, constatado!
O amor de Porfíria: insciente
De sua vontade realizada.
E assim, sentados juntos,
Eis-nos quietos na madrugada,
E ainda Deus não disse nada!
E alçou-se o triste vento,
Que os elmos pune com seu açoite
E vexa o lago em descontento:
Eu escutava em desalento.
Foi quando entrou Porfíria,
Ajoelhada e gentil;
Aqueceu o chalé com o fogo
E enfim sentou-se ao meu lado
E me chamou. Quando o chamado
Não respondeu, o meu braço colocou
Em seu quadril, o ombro nu,
E espalhou seu louro cabelo,
Murmurando que me amava —
Tão fraca, queria somente
Livrar do peito, que lutava,
O vão orgulho que sente,
E entregar-se a mim eternamente.
E às vezes a paixão domina,
E o festim desta noite bela
Não freia a ideia repentina
De alguém tão necessitado do amor dela.
Certo é que em seu olhos eu olhava
Feliz e orgulhoso; pois vi
Que Porfíria me idolatrava.
Com o choque, a agitação senti,
Ela crescia, e eu decidi.
Perfeita e pura: naquele momento,
Pois ela era minha, minha só,
E o seu cabelo, em meu intento
Passei numa áurea linha
Três vezes por sua garganta,
E a estrangulei. Foi indolor;
Foi indolor, disso estou certo.
Como uma abelha presa em flor,
Abri os olhos azuis de perto:
E riram, puros e abertos.
Eu ergui-a como costumava,
Só que meu ombro segurava
Sua cabeça ainda pendente.
Feliz com o desejo cumprido,
A sua fronte rósea e sorridente,
Que o que desprezava é passado,
E eu, seu amor, constatado!
O amor de Porfíria: insciente
De sua vontade realizada.
E assim, sentados juntos,
Eis-nos quietos na madrugada,
E ainda Deus não disse nada!
Robert Browning (1836)
Traduzido
e editado.
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