O lobo solitário à alcateia torna

As relações humanas são a componente mais pesada das nossas vidas. Os segredos, discussões, intrigas, compromissos e críticas desgastam-nos infinitamente.

Resolvi reduzir recentemente o número de pessoas a quem chamo ‘amigos’, apenas para os que são realmente marcantes, aqueles que podem contar comigo “faça sol, faça chuva”; e eu com eles. Decidi também afastar-me consideravelmente da vida social e deixar de ter ‘conhecidos’, esse conceito incongruente e oxímoro.

A minha intenção era redireccionar toda a minha atenção, durante uns tempos, para objectivos de curto-médio prazo pessoais e tangíveis, colocando a minha pessoa em primeiro lugar e sacrificando aquilo (e aqueles) que considero acessório(s).

Não foi uma árdua tarefa reduzir os meus níveis de interacção, pois sempre fui introspectivo e um apaixonado por coisas feitas à minha maneira. Dos maiores prazeres do meu dia, por exemplo, é almoçar sozinho.

Os ‘conhecidos’ que deixei para trás, bem como as suas fúteis idiossincrasias em eventos sociais, deixaram poucas saudades. No entanto, a mais curiosa constatação foi o aperceber-me o quão fundamental é saber que a minha família e amigos (os tais, que “importam”), mesmo distantes, estão presentes, como uma sentinela plantada numa torre de vigia, atenta no silêncio das alturas. Refiro-me, de modo simbólico, à mais infinitesimal das mensagens a perguntar como foi o meu dia, ou ao mais breve dos telefonemas a pedir um pequeno favor. Questiono-me se uma vida sem esta rede de segurança será sustentável.

Muitos de nós, inadvertida ou propositadamente, colocamos projectos, planos e pessoas em suspenso de modo a focarmo-nos em alcançar determinados fins. O que nem sempre temos presente é que há relações simplesmente inalienáveis. De uma forma ou de outra, somos todos seres agremiados, pois até os lobos solitários vagueiam em busca de uma alcateia.