O Jorge e as perspectivas

Este é o conto do Jorge.

O Jorge era um aluno mediano, medianamente atraente e de classe média, sócio-economicamente falando.

O Jorge começou a interessar-se por raparigas aos 17 anos. Começou com um fraquinho pela colega de carteira das aulas de físico-química. Morena de olhos escuros, com um sorriso bonito, esperta e vivaça. Não deu em nada, para desgosto do Jorge. A seguinte, sim, deu, mas durou pouco: ruiva com sardas, alta e esguia, mas com outro ritmo e maturidade, rapidamente se desinteressou. Já traumatizado, o Jorge virou as suas atenções para colegas discretas e menos concorridas, como um caçador inexperiente a colocar um veado coxo no seu ponto de mira. Com a gradual interiorização deste filtro, as raparigas bonitas e populares perderam por completo o seu encanto, dando lugar às “engraçadas mas reservadas” como as novas ‘deusas’ do universo do Jorge.

Quem se lembra da hilariante paródia do Gato Fedorento da célebre música dos Toranja?

“Não tenho é pachorra para perder tempo a competir com gajos mais giros, espertos e ricos do que eu pela melhor da festa (…) prefiro ir pela certa e contentar-me com a sétima ou oitava melhor…”

O Jorge não se riu.

As condições de cada um definem os seus padrões, que inspiram as expectativas, que por sua vez ditam… a realidade? Podendo esta cadeia de racionalizações levar até ao total moldar da verdade de cada um?

A consciência humana é assim tão fraca e manipulável?

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