Avanços, Desavanços e Solavancos da Tecnologia

Reflicto nos avanços tecnológicos e nos novos comportamentos que a sociedade adopta em sua resposta. Um problema latente num mundo em que mortos-vivos buscam o êxtase por este lhes assegurar uma dada confirmação existencial. Observo o desequilíbrio de valores que se constroem em prol de uma destruição disfarçada – toda ela – de progressão Humana. Este loop enjoativo, à maneira de uma roda de hamster, escraviza os seus utilizadores, distraídos e ingénuos, sobre quem cairá a ineficiência, a dormência e a impossibilidade de revolta.

Actualmente as grandes empresas da era digital como a Facebook, a Microsoft, a Alphabet (empresa-mãe da Google), a Apple e a Amazon representam a indústria do petróleo dos nossos dias: a infame (segundo eu) Indústria da Informação.
É curioso observar que hoje andamos carregados de apetrechos que permitem a colheita de dados. Cada vez mais, é a informação e o conseguir criar processos inteligentes que respondam a uma melhor performance tecnológica. A Internet of Things ilustra o facto de que a recolha de informação já se estende às diversas áreas da nossa vida: seja quando trabalhamos, quando corremos, cozinhamos ou passamos tempo com os nossos filhos.

Estes avanços tecnológicos dão-nos jeito, claro, mas o perigo que podem vir a representar tem que ser tido em conta. É bem verdade que qualquer individuo pode pesquisar o que quiser no Google, mas será a Google quem virá a ganhar verdadeiramente com a informação pessoal que o individuo deixará nessa e noutras pesquisas. Cada individuo vai criando um rasto de informação que estas empresas armazenam e que, por fim, analisam ou vendem ou fazem o que for necessário para se tornarem mais lucrativas e poderosas.

"Tomorrow’s monopolies won’t be able to be measured just by how much they sell us. They’ll be based on how much they know about us and how much better they can predict our behavior than competitors." - HBR

É de tal forma o peso desta indústria que chegamos a um nível de manipulação inconsciente absolutamente inaceitável, tendo em conta que as mesmas empresas contratam especialistas na criação de mecanismos propícios ao vício (criando por exemplo mecanismos de elevado prazer físico e emocional), cientes de que, desta forma, o utilizador terá um maior envolvimento nas plataformas e serviços.. Terá, por assim dizer, um maior rendimento.

“Vivemos com uma slot machine no nosso bolso”, refere um tal ex-gestor de produto da enorme Google.

Já houve quem defendesse que a Facebook deveria pagar aos seus utilizadores, pelos ganhos absolutamente extraordinários que tal empresa tem com o fornecimento de informação pessoal que os utilizadores promovem (consciente ou inconsciente) ao envolverem-se com a rede social. Já houve também quem julgasse que deveria ser o utilizador a pagar a estas empresas de modo a obter um dado nível de privacidade desejado, tendo em conta a utilidade que tais tecnologias podem, ainda assim, representar. Ideias obviamente desvinculadas da Agenda destas corporações imparáveis.

Por outro lado, a regulação continua a não acontecer da melhor forma, talvez pela lentidão da Lei em comparação com a rapidez dos avanços tecnológicos. Ainda este ano, a Google foi multada pela EU por práticas monopolistas, mas prevê-se uma absolvição da mesma pois - resumindamente - os utilizadores do motor de busca da Google não são os seus clientes. Tal serviço é dado de graça às pessoas, sendo-lhes absorvida a informação que será, então essa, a riqueza da Google - os verdadeiros clientes serão pois as empresas ou indivíduos interessados nos impactantes serviços de Marketing fornecidos pela mesma Google.

Seth Stephens-Davidowitz dedica-se a descobrir a nossa relação com a Google e os resultados das suas análises são notórios. O grande insight que retiro de todo o seu research é o facto de as pessoas se revelarem muito sinceras aquando da utilização deste motor de busca, indicando sinais que permitem a obtenção de informação muito rica para as empresas que desejam inovar, vender e persuadir. De tal forma que Seth encontra-se neste momento a desenvolver métodos que permitirão prever resultados de eleições baseando-se apenas em pesquisas realizadas pelos utilizadores Google.

Para concluir, gostaria de fazer saber que percebo uma determinada admiração pelas maravilhas da tecnologia, seja pela novidade, seja pelo impacto grande (tantas vezes símbolo de impacto positivo) que têm na sociedade. Ainda assim, não consigo deixar de ver a falta de consciência que existe perante os males inerentes a esta onda de interesses. As pessoas iludem-se de tal forma com o poder da Internet e com a sensação de liberdade que mal reflectem no perigo que esta pode, na verdade, vir a ter. Sou muitas vezes catalogado de exagerado ou fanático das conspirações, mas basta observar o comportamento animalesco que o Homem tem com estes aparelhos. A doença parece-me óbvia, as provas científicas vêm ao de cima, as pessoas que trabalham na indústria revoltam-se com a falta de ética e vêm contar a verdade.

Se ao longo da História tendemos a criticar as instituições que impuseram valores ou crenças à população, então também deveria partir de nós alguma revolta perante as práticas destas empresas tecnológicas. Mas não o fazemos porque elas iludem o povo dizendo que estão fornecendo entretenimento, informação, liberdade, felicidade, quando na verdade estão a proporcionar manipulação do cérebro Humano para seu uso interesseiro. Não o fazemos porque julgamos ficar a ganhar, enquanto sociedade, com estas tecnologias. Não o fazemos por continuarmos a crer que o Desenvolvimento tecnológico é sempre sinónimo de Progresso Humano. Não o fazemos por culpa de um tal prazer que justificamos pela sua utilidade.

Como disse alguém, "I freed a thousand slaves. I could have freed a thousand more if only they knew they were slaves."

Comentários

  1. Congratulo-o pelo post e pela pesquisa que fez para o compilar. Gostei por ter constatado que não é o seu estilo de escrita habitual.
    Gostei ainda mais porque me posso relacionar (e muito) com o que escreve. Muitos dos motivos que elenca contribuíram para eu ter aceitado o meu primeiro smartphone apenas com 24 anos e para que, com 25, tivesse abandonado as redes sociais. Versarei um dia sobre este tema.
    Quanto a soluções, penso que não as há ainda. Para já, podemos contar com os avanços das leis de protecção de dados e com campanhas de sensibilização (a começar connosco, talvez?) contra as consequências nefastas da tecnologia, redes sociais e alienação de dados pessoais.

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    1. a diferença aqui foi ter aprendido a fazer os hiperlinks. recomendo, porque é muito divertido.

      Soluçoes: parar é morrer.

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