Adieu
Minha querida,
Escrevo-te hoje num
turbilhão de emoções.
Cheguei a ti
cansado. Esperançado mas sem saber o que esperar.
Foste uma lufada
de ar fresco.
Recebeste-me tão
bem, e tão bem compreendeste as minhas necessidades e idiossincrasias.
Já era apaixonado
por ti como visitante, mas apenas porque não te conhecia ainda como local.
É com pesar e desonra
que me arrependo de não ter feito por te conhecer assim mais cedo.
Ensinaste-me a
viver.
Ajudaste-me a crescer.
Chegou, no entanto, a altura de regressar a casa. De voltar às origens com
sentido de dever cumprido.
Parto com o
coração apertado, mas cheio.
É um dia feliz
porque sei que sem o teu embalo não teria conseguido.
Nunca te
esquecerei.
Os teus telhados
azuis-escuros, as chaminés cilíndricas, as mesas de esplanada para dois onde só
cabe um, apontadas para o cinema de ar livre que são as tuas ruas e passeios.
As árvores e a
luz natural dos teus boulevards, os
alfarrabistas à beira-rio, os carros que teimam em não parar nas passadeiras.
Os artistas de Montmartre,
os bourgois bohèmes do Marais, os meninos
de Saint-Germain.
A pituresca Rue
Caumartin, a vivaz Rue Montorgueil, a ostentosa Rue Saint-Honoré.
A imponência da
Avenue de l’Opéra, os becos e ruas ziguezagueantes do Marais, os bares animados do Quai d’Austerlitz.
A ponta escondida
da Île de la Cité, com vista privilegiada para as duas margens do Sena.
A vista da
Madeleine para o outro lado do rio pela Rue Royale, onde os olhos encontram de
uma só vez o Obélisque, a Assemblée Nationale e os Invalides.
O assalto ao Ritz,
as cheias no Sena, o nevão que cobriu as Tuileries de branco durante dias a fio.
As emoções do
Campeonato do Mundo vividas no Chez César et Paulo, lado a lado com os
emigrantes saudosos e hospitaleiros.
O jazz swing em
Les Halles, os piqueniques no Champs de Mars, o serão no Dans Le Noir.
O jantar no Train
Bleu, os copos de vinho no Hilton, a passagem de ano nos Champs Elysées.
Os brunches no Kong, as cervejas no
Polyglot, as idas ao Perchoir ao pôr-do-sol.
A certeza de que
te voltarei a ver muitas vezes, durante muito tempo.
Do sempre teu,
Danyel
16 de Agosto de 2018
16 de Agosto de 2018
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