Uma reflexão sobre o sentido da vida..


Indice:

1. Proposito tipo 1)
2. Proposito tipo 2)
3. Proposito tipo 3)
4. Proposito tipo 4)
5. Uma critica aos propósitos
6. Notas sobre o Casamento


Summary: Julgo que o mais importante na vida não é a felicidade, não é a beleza, não é a espiritualidade, não são as relações, nem a saúde nem o dinheiro. Ao longo deste texto reflito nos estilos comuns de percepcionar o sentido da vida e termino com a minha conclusão pessoal.


Propósito tipo 1) Há pessoas que rebuscam o sentido da vida no exterior a si mesmos, descrevendo-o como algo que é descoberto numa fase inicial da vida ou algo que deve ser buscado a medida que se vai vivendo: "descobre o teu propósito", diria um desses tais oradores motivacionais. Associo este tipo de visão aos valores renascentistas ainda hoje sentidos quando dizemos 'o Manel nasceu para a arte'.

Propósito tipo 2) O tipo 1) seria muito giro quando o menino nasce envolto de uma familia que o condiciona a acreditar que ele, de facto, nasceu para algo maior. Ja para o que procura incessantemente o seu sentido para a vida a coisa torna-se mais sofrida: "Quando começo a viver??". Mas eis que veem os Existencialistas, reprovando a ideia de que o propósito é algo que está aí por encontrar. Eles acreditam que o propósito é fonte única da nossa decisão. Eu decido consciente e racionalmente qual é o meu propósito.

Propósito = sobrevivência

Como observou um tal psiquiatra (famoso por ter sido prisioneiro de um campo de concentração nazi), as pessoas com uma sensação de propósito tem maiores chances de sobreviver e de viver bem que as demais sem propósito. Faz sentido… se acreditas num amanhã e se sonhas com o fim da construção que hoje te faz sofrer, então possivelmente encararas o sofrimento com alegria.

Penso que é por isso que toda a gente aprova a ideia de propósito, ainda que nunca tenham reflectido muito nisso. Basta ver como admiramos pessoas com um propósito bem claro. Socialmente não deve haver nada mais louvável.

Mas a verdade é que a maioria não dedica tempo nem a 1) nem a 2). Vão vivendo e queixando-se da vida. Pagam as contas, criam filhos, trabalham para fins menores, sofrem, tornam-se escravos das próprias crenças e pouco crescem... morrendo pequeninos e cheios de coisas por resolver.

A maioria admira, sim. Mas não vive. A maioria não tem nem a sorte de ter uma infancia condicionada a crer que nasceu para algo (1) nem vive em busca desse algo (2). A maioria cai no terceiro tipo (3), que passo a apresentar em baixo:

Propósito tipo 3) Começo pelos exemplos. A Religião: atribui a Deus (ou a qualquer ser divino) a fonte desse propósito. O Estado: atribui ao sentido de patriotismo. Encontra-se enraizado noutros como no consumismo ou nos clubes de futebol, onde se promove o fanatismo. Os pobres de espírito, os que andam no frenesim da vida, encontram de forma fácil a razão pela qual foram atirados aqui para a Terra. "Sou doente pelo meu clube", dizem.

E lá fica a vida de um miserável, com todas as suas maleitas, um bocado mais razoável de se viver.

Seja do tipo 1), 2) ou 3), todos queremos esse Propósito maravilhoso, seja relativo ao clube, à profissão, à arte, à espiritualidade ou à ajuda social. Mas...

Propósito = Tensão

Criticaram alguns que o propósito rapidamente cria desejos, frutos do sofrimento. Que o foco no propósito nos faz esquecer do aqui e do agora...

Propósito tipo 4) … e que o propósito da vida e tão-só viver: Respirar, comer, sorrir, socializar, meditar, trabalhar: estando sempre presente em cada acção.

Pessoalmente, adoro esta visão simplificada da coisa. Acredito por outro lado no valor da 'ansiedade equilibrada'. O sonho perante a construção de um projecto faz-nos naturalmente tensos porque mentalmente criamos um laço entre o momento do agora até ao momento do projecto finalizado. E isso pode ser positivo!

É importante haver uma boa gestão das emoções. Se uma emoção me controla os sentimentos e a vida, ainda que positiva, pode ser nefasta porque não estou em mim.

Há Propósitos claramente perigosos, como o nazismo ou as religiões radicais, mas haverá outros que ainda que pareçam inofensivos/positivos, que podem constituir um mal no sentido em que nos controlam as emoções se assim o permitirmos. Este tipo 4) ensina-nos essencialmente que estar presente nas nossas acções é importante, caso contrário vivemos de sonhos e  de ilusões. Um propósito pode-me levar a perder amigos, saúde e qualidade de vida.

Uma critica aos propósitos

Pouco acredito no valor dos tipos de propósito comuns (os 4 acima apresentados). Se tivesse que escolher um, inclinar-me-ia para o tipo 4), pois resume a base para o que acredito ser o fim mais importante da vida: A Criação.

O Ser Humano é por excelência criador. Vivemos para criar. Criamos desde o mais basico e animal, ao mais supremo e virtuoso.

O homem que entra no frenesim, entre as obrigações que o pressionam a fazer coisas que não gosta, experimentando sensações pouco ricas e rotineiras, entra numa espiral de pobre criação. Este é o individuo que precisa da doença do Propósito. 1)"Oh este individuo tem talento natural!", 2)"Oh eis que decido que o meu propósito é a carreira e o dinheiro", 3)"Oh é Deus a alegria dos meus dias" ou 4)"eis que respiro, eis que durmo, eis que não me importuno."...

Verifique-se o seguinte: os propósito tomam uma função de incentivação à Criação.

Pegando no exemplo do individuo miseravel, encontrando um clube de futebol que o permite cantar, amar, libertar endorfinas, executar o seu lado mais animal, acordar cedo para ver as noticias do desporto, encontrar amigos, decorar a casa e o carro com elementos do clube, etc. Eis, meus caros, um Criador.

Desbloqueia-se ali algo que não o permitia viver como vive agora.

Mas se o proposito incentiva a criar, então porque o critico? 

Para a criação de valor é preciso flexibilidade de pensamento. Flexibilidade para actuar com rapidez e eficiência. Para criar sem pretensões defeituosas, para reconhecer os erros padrões detectados e constantemente ser capaz de reconstruir novos padrões, novas percepcões, profundas crenças sobre a realidade.

E para que haja flexibilidade de pensamento é preciso que haja boa qualidade emocional.

Os 3 primeiros tipos de propósito apresentam uma tactica nefasta de se conseguir boa qualidade emocional. Assim que, ainda que funcionem como desculpa para criar, são finalmente bloqueios para a Criação com Valor.

Já o tipo 4 ajuda-nos a encontrar esse equilíbrio emocional, ficando a faltar-lhe uma metodologia mais eficaz para criar. Basta olharmos para os hippies da costa oeste... muito giro ser peace & love, mas criam pouco e com pouca qualidade.

Mas todos cegam os indivíduos em vez de lhes dar maior claridade.

Exemplo: Se és um conceituado gestor de empresas inglês que se muda para um país africano muito pobre, o propósito que te impuseste a determinada altura relativamente a tua carreira poderá cegar-te perante as condições das pessoas que ai vivem. Ao passo que, sem propósito e com as emoções bem geridas, podes criar com valor e sem bloqueios. Ajudas nas infraestruturas, distribuis comida pelos pobres, planeias formas de melhorar a vida da comunidade, etc., ao passo que a tua carreira não precisa de congelar, porque com esse mesmo equilíbrio emocional, podes continuar a reunir-te com clientes, a tomar decisões estratégicas e a ajudar a empresa a crescer. Com as constantes mudanças da vida, essa flexibilidade para nos tornarmos bons criadores é essencial.

Não precisamos de propósito, não precisamos de desculpas. Não precisamos de motivações extrínsecas. Será necessário pura e simplesmente criarmos.

Notas sobre o casamento: 

O propósito delineado em 3) é muito interesseiro por parte das instituições que o definem e defendem. Para além disso, é um tipo de propósito com uma função muito social, particularidade promovida pelas mesmas instituições para que, por um lado, todos os seus ‘crentes’ castiguem com maior severidade os que trabalham mal no propósito comum, por outro, de modo a admirar e a recompensar quem faça as coisas bem.

O casamento: Um propósito comum entre duas pessoas. O casamento motiva os seus constituintes a criar: uma família, um lar, uma estrutura, etc. O casamento é promovido pelo Estado, pela religião, pelo consumismo, etc, pelo que encaixa bastante bem na categoria 3). Questiono-me se não haverá melhor maneira de se olhar para o casamento? Não haverá melhor forma de encarar a união entre duas pessoas que se amam e que querem construir juntas? Não haverá melhor forma de definir o que é errado do que é certo?

Como noutros propósitos, as estruturas do casamento, tal como o conhecemos actualmente, tornam-no pouco flexível, traduzindo-se no enfraquecimento e no empobrecimento do indivíduo que precisa de criar…

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