O que fazer do racista ao virar da esquina?

Portugal, o nosso belíssimo rectângulo à beira-mar plantado.

Que serve de casa a nós, tanto a ti como a mim.

Serve também de casa a racistas.

Às dezenas e talvez até às centenas de milhares.

Indivíduos sem escrúpulos que padecem dessa doença dificilmente curável, acreditando implícita ou explícitamente que a cor da pele é um fator distintivo de relevo.

Atrevo-me a dizer, com pesar e mágoa, que não existe um país do Mundo que não sirva, ainda hoje em dia, de casa a essa espécie.

É um diagnóstico fácil de se fazer, ainda mais nestes tempos de indignação generalizada e consensual.

O problema é o aproveitamento político-social que muitos tentam retirar da proliferação do racista por esta Europa tão polarizada.

Os antifas dizem, caricaturando: "o espírito opressor e de superioridade racial do passado colonial do Ocidente voltou!"

Os nacionalistas respondem, exageradamente: "como querem que se sintam os residentes dos subúrbios das grandes cidades face à onda de violência e criminalidade à porta de casa?"

As redes sociais e a internet, em particular, tornaram-se veículo por excelência deste sensacionalismo.

Os antifas espalham vídeos de bairros de lata e de abusos policiais a minorias, muitas vezes adulterados.

Os nacionalistas respondem com fotografias de lojas pilhadas e comércio destruído, muitas vezes com uma história por trás que não a aparente.

Os antifas vão longe demais. Portugal é um país tolerante, acolhedor e seguro, onde não existe um problema fundamental de racismo estruturante enraizado na sociedade, onde as salas de aulas dos liceus e colégios, de norte a sul, são multiculturais e onde um emigrante de uma minoria étnica tem todas as possibilidades de singrar, seja como CEO, juiz ou ministro.

Os nacionalistas não vão suficientemente longe. O sistema judicial de muitos países, liderados pelos EUA, deve ser revisto a fundo. É desumano ignorar os incessantes relatos de episódios de brutalidade policial para com minorias negras ou as estatísticas que demonstram a desigualdade demográfica da população prisional.

Ambos evidenciam uma ausência tal de sentido crítico que não lhes permite formular opiniões com cuidado, para além das que lhes são convenientes.

Cuidado esse que impera muito mais em tempos de reaccionismo do que em tempos de normalidade.

Há uma razão para as reformas estruturais levadas a cabo após grandes escândalos na sua maioria serem mal feitas e acabarem por responder mais à opinião pública do momento do que visar endereçar os problemas latentes.

As reformas devem ser refletivas e não reactivas.

Muito mais preventivas do que atenuantes.

A pressa é inimiga da perfeição. A indignação também.

Como costumo dizer a colegas em ambiente corporativo, enraivecidos com o chefe e subitamente prestes a elaborar um e-mail carregado de insultos a anunciar a sua demissão: "escreve, desabafa, mas não envies".

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